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Como criar personalidades reais para as assistentes virtuais das marcas?

    Personagens com um visual realista intrigam e seduzem o público há gerações, acompanhando a evolução da tecnologia. Indo além do visual 3D, personagens influenciadoras como a Clara da Tegra (produzida pela Mono em 2022) nos fazem questionar: o que torna um personagem icônico?

    E assim, entramos numa corrida imprescindível para as marcas: ter uma vida representada em um personagem virtual, que transmita o carisma necessário, pois o universo virtual se tornou tão real como um amigo de confiança- Metaverso vem aí! A pergunta é: como trazer características de personalidade no visual da personagem?

    Somente após muita pesquisa, estudos de diferentes cores, roupas e traços visuais, até chegar em um consenso com a marca, agência e produtora, em que todos os envolvidos conseguem enxergar um pouco de si e dos valores da empresa na personagem.Para trazer estes elementos realistas, também é preciso envolver uma equipe de artistas que já trabalham com essa técnica há muito tempo, que acompanharam a evolução da tecnologia e já avançaram tecnicamente essas questões, para seguir evoluindo a técnica em conjunto.

    O que é uma brand persona?

    Brand persona é uma personagem criada para ser a cara da Marca. Mas qual é a cara dela? Alguns pensam que é a cara do seu cliente. Outro de um funcionário, de um representante. No fundo, a personagem é um um diálogo, portanto, sempre uma conversa. Com quem o personagem deve conversar? E como toda conversa, é preciso saber quem você está batendo papo: é um jovem, adulto? Homem, mulher ou até de gênero neutro? O objetivo geral de uma assistente virtual / brand persona – é fazer o público sentir com que se relacionem com um ser humano, uma personalidade. Não pode haver dúvida. Deve gerar a certeza e aquela reação de “esta sim me representa” ou aquele que gera o sorriso quando dizemos “isso tem a cara deles mesmo”. E o mais legal de quando falamos de um personagem virtual: ele pode até ser o que não temos coragem de expor por aí.

    Agora, como tudo que nasce, precisamos saber de fato o que ela faz na sociedade: vende, colabora, auxilia, acompanha, motiva, ameniza, vibra, tudo que é necessário para ser um “embaixador” da marca. Cada um desses objetivos requer uma personalidade, uma postura. Qual é a personalidade da personagem? Doce, resiliente, extrovertida, brincalhona..? O objetivo é fazer com que o público sinta uma empatia pelo personagem, não é “fazer o público achar apenas que é real”, o que muitas vezes nem importa hoje no mundo digital, mas fazer ele entender que a personagem representa de uma maneira diferenciada, muitas vezes através de valores que compartilham.

    Conceber a identidade de um personagem que represente uma empresa não é tão simples quanto parece. O desafio em criar uma persona é saber personificar ideais, transformá-los em algo visual. Por isso devemos definir toda a personalidade antes de criar a assistente. As primeiras ideias, como em todo tipo de projeto, definem as sensações que a empresa respira e o personagem precisa transmitir ao público. Para definição física de um personagem, é preciso recorrer a estudos, sketches, concepts, experimentar técnicas, referências, etc.

    A personagem no site da construtora Tegra, em www.tegraincorporadora.com.br/clara/

    Uma assistente virtual não precisa ser necessariamente humana. Podemos pensar em criaturas fantásticas, figuras exóticas, robôs, animais, pode gerar a identificação, ou até ser apenas a voz da assistente, mais explorada por empresas financeiras,. O processo de criação para uma assistente virtual que é só a voz ganha em dinamismo e velocidade na interação pelo som, mas pode ficar mais limitado quanto à comunicação já que hoje em dia nos tornamos uma sociedade majoritariamente visual. Ao mesmo tempo que aproveita a evolução da tecnologia de reconhecimento de voz (como Alexa da Amazon). Mas seu objetivo em representar a marca pode ser tão efetivo quando remete muito mais à “inteligência artificial”, tecnologia e praticidade de uma máquina. É preciso não só transmitir facilidade, mas realmente participar da rotina do cliente, o que acompanha uma mudança de hábito cotidiano em ter este novo amigo, tornando ela uma tecnologia funcional.

    Mas quais são as técnicas e qualidade artística apropriadas que se exige para criar personagens verdadeiros hoje em dia? Com a evolução da tecnologia de hoje, e as pessoas vivendo cada vez mais no mundo virtual do que real, se necessita deixar tão realistas que quase não sabemos se é uma fotografia ou 3D, o que precisamos combinar para deixá-las tão verossímil?

    Personagens 3D do lançamento da tech demo de Matrix – O Despertar: Uma experiência Unreal Engine 5. Essa nova tecnologia permite com que o processamento da animação 3D seja realizado em tempo real e com uma fidelidade gráfica muito similar à realidade.

    Cada vez mais, a Computação Gráfica busca trazer ferramentas automatizadas em softwares para criar novas formas de acompanhar a demanda disso tudo. Sabe aqueles filtros de Instagram, pequenos detalhes que eliminamos no Photoshop para as fotos ficarem perfeitas, capa de revista? Rugas, sardas, pequenas imperfeições são o que nos tornam únicos, e é isso que buscamos trazer para na computação gráfica 3D para trazer a alma dos personagens, com renderes com cálculos cada vez mais aperfeiçoados e rápidos, mesclando mais a arte com a tecnologia com os “retocadores virtuais”.

    Muitas influenciadoras de moda, seguem mantendo os padrões de corpo ideal inalcançáveis, com corpos muito magros, nariz arrebitado e cabelo liso. Isso porque o foco dessas personagens é na roupa, estilo de vida, e por isso os detalhes em 3D das roupas encantam o público e inspiram, quase até mais que as personagens em si. Existe até uma técnica de montagem, que personagens como a Imma Gram (virtual influencer no Instagram) usa, que é a de fotografar modelos reais, com roupas reais, e um tratamento 3D para inclusão do rosto da personagem. Tecnicamente uma composição extremamente realista no sentido de parecer trazer a personagem para o mundo real.

    À direita sup. vemos a virtual influencer Imma Gram (ao meio) em uma campanha publicitária, e à direita inf. Rennata da Renner. À esquerda uma campanha publicitária da virtual influencer Lil Miquela ao lado da modelo Bella Hadid.

    Há outras campanhas, que necessitam que a assistente virtual seja  aplicada com agilidade nas redes sociais e sempre na velocidade que as tendências surgem. Tecnicamente, há  campanha que não depende de tendências para ser lançada, pode exigir mais tempo de produção e mais cuidado aos detalhes para o máximo de refinamento, o que tem sua aparição mais pontual, com qualidade e nem tanto quantidade, como aqueles famosos que quando surge, é porque o momento é especial. E há casos que necessita estar a todo momento do lado do público em diferentes ocasiões e campanhas mais rápidas, necessitando  ter algumas poses e animações chave, que possam ser usadas de forma coringa para qualquer situação. Mas ainda assim é preciso um tratamento para cada campanha, para não parecer uma montagem à la frankenstein, o que leva um precioso tempo. Daí o desafio.


    Os desafios de criar assistentes tão humanas também envolve ser realista no sentido de ser uma mulher real, sem o corpo padrão da indústria da moda. Há  personagens  que possuem traços que até exageram o que seria um tabu – exagero nas proporções do rosto – mas que pretendem representar melhor as mulheres da vida real. São personagens que passam a ideia de que usar maquiagem não serve para agradar aos outros, mas a si mesma. Não para “esconder suas imperfeições”, mas para servir como um acessório de empoderamento da sua auto imagem. A realidade nesse caso depende mais do que a aparência, e sim de fatores sociais e culturais que afetam um grupo como um todo.

    Comparação entre personagens virtuais “realistas” (Lil Miquela e Rennata) e personagens menos realistas mas que representam a diversidade fora dos padrões (Nat e Dai)

    Valores da Marca

    Ambos modelos geram identificação por parte do público, que se sente representado pelas marcas. Tudo é questão de saber com quem vamos falar, para encontrarmos essa persona que converse com o público e ao mesmo tempo represente os valores da companhia. Valores esses compartilhados no cotidiano dos funcionários e colaboradores, uma mudança que vem de dentro (da empresa) para fora (para o público). Afinal, através das redes sociais o próprio público vai defender ou expor se às questões representadas pelas empresas trazem verdade ou não. 

    Muito além da técnica, a produtora precisa mergulhar em todas as questões culturais e sociais que alteram a percepção do público, e envolvem a empresa por todos os ângulos. É a partir dos valores que criamos os personagens, as sensações que ele deve transmitir, e só então começar a discutir sobre a técnica que vai transmitir isso melhor. Existem diversas técnicas que podemos explorar para cada tipo de personagem, mas encontrar sua personalidade e essência é uma tarefa mais delicada e personalizada para cada situação. 

    E, de qualquer forma, o olho humano sempre vai saber se uma figura humana é real ou criada pois, por mais realista que seja possível hoje em dia com a computação gráfica, muitas vezes não é para ser confundido com o real (senão faríamos apenas fotografias da realidade, não é?)  – o importante é elas terem a personalidade certa, tua alma com empatia com o público. E o público vai conversar e se identificar mesmo assim, porque são os valores que eles carregam e as histórias que contam, que são capazes de emocionar e tocar nossas vidas. Mais do que ser real, devemos transformar os personagens em um ícone para os valores que queremos transmitir.